"O Chamado Silencioso da Alma"
- Marcia Fabiana
- 24 de ago.
- 3 min de leitura
Atualizado: 29 de ago.

Desde muito pequena, algo dentro de mim já se inquietava.
Eu ouvia vozes, sentia presenças e via o que ninguém mais parecia ver. Eram momentos que me deixavam assustada, mas eu permanecia em silêncio, escondida no meu próprio mundo, com medo de ser desacreditada.
Os sonhos vinham fortes, quase reais, como se eu estivesse vivendo aquilo de verdade. Mas quem, naquela idade, teria coragem de contar algo assim?
Eu mesma não conseguia entender.
Lembro com nitidez de quando tinha sete ou oito anos… Via pessoas que simplesmente não estavam ali — pelo menos, não aos olhos dos outros. Pensava que fosse apenas imaginação. Tentava me convencer de que eram ilusões, fantasias criadas pela minha mente inquieta.
Aos nove anos, porém, veio o primeiro sinal que deixou marcas profundas.
Sonhei que arrancava um dente, e o sangue jorrava em abundância. Acordei perturbada.
Naquela manhã, minha avó materna, faleceu.
Com o tempo, percebi um padrão: sonhos com sangue, dor e perda vinham sempre antes de alguém próximo partir. Mas foi só aos quinze anos que comecei, de verdade, a conectar os sinais. Foi quando a espiritualidade começou a se revelar, não como crença, mas como um código secreto da alma.
Lembro como se fosse agora…
Eu era só uma menina, e ele, meu primeiro amor — platônico, inalcançável, silencioso. Ele tinha dezenove anos, fazia faculdade, morava dois andares acima do meu. Eu o observava da janela da lavanderia, em segredo, como quem contempla uma estrela que jamais se pode tocar.
Na véspera do seu aniversário, ele jogou uma cordinha para pegar um cigarro com um amigo no pátio. Quando vi aquilo, algo escapou da minha boca:
“Você está puxando a morte.”
Nem eu sabia por que disse aquilo — era como se outra parte de mim tivesse falado.
Naquela madrugada, sonhei com ele.
Sangue. Muito sangue ...
Sangue. Escadas. Ele deitado no meu colo, pedindo socorro, e eu gritando, em desespero. Acordei em pânico. Mas, ao ver o carro dele no estacionamento, tentei me acalmar.
Pensei: Foi só um sonho.
Fui trabalhar como se nada tivesse acontecido.
Ao voltar, no horário do almoço, encontrei o prédio mergulhado em lágrimas e uma tristeza imensa.
Minha amiga me contou: ele sofreu um acidente com o carro do pai e morreu no local.
Meu corpo paralisou. Dei uma risada nervosa, sem acreditar.
A mãe dela me olhou nos olhos e me deu um tapa. “Isso é sério.”
E então, a ficha caiu.
Fui no velório, o caixão estava fechado, pois o acidente o deixou irreconhecível.
Foi muito difícil, foi uma noite que não tinha fim.
Mas eu tinha que continuar, estava em uma tristeza imensa, passou alguns dias, não lembro ao certo quantos.
E para minha surpresa comecei a vê-lo. Ali, em frente ao prédio, parado, como se quisesse me dizer algo.
Eu estava na rua subindo e o via todas as noites, no mesmo lugar,
Quando eu chegava perto ele desaparecia
Como contar isso a alguém sem ser chamada de louca?
Foi aí que eu peguei a rezar, subia a rua rezando, ficava parte da noite rezando, e parei de chorar tanto.
O medo me paralisava, aquilo durou meses, até minha família se mudar. Mas a mudança não apagou as marcas, nem calou os chamados. Pelo contrário. Foi só o começo…
Foi nesse ponto que minha busca se intensificou. Procurei respostas em igrejas católicas, evangélicas, centros espíritas, terreiros de umbanda, no candomblé. Mas nada me dizia, com clareza, o que estava acontecendo comigo.
Nada tocava o que eu sentia.
Até que, aos 17 anos, algo finalmente começou a se revelar.
Mas isso… isso é um capítulo à parte.
Marcia Fabiana




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